25.02.1956 – Nikita Kruschev pronuncia seu “discurso secreto” denunciando as atrocidades políticas cometidas por Stalin

Por Gustavo Seferian

Nunca é tarde para lembrar da máxima de Daniel Bensaïd de que o comunismo é irredutível às suas falsificações burocráticas. Por mais que as articulações intelectuais burguesas, pelo obscurantismo ou pela mentira, tenham tentado associar a mais pujante utopia das trabalhadoras e trabalhadores com o autoritarismo, a violência, a idolatria e o privilégio, seus esforços, reduzidos ao concreto, restam embalde.

Contaram seus esforços de detração, porém, com imensos empurrões dados de dentro dos regimes pós-revolucionários experimentados no século XX.

O maior deles foi dado por Joseph Stálin, pai de todo fardo negativo que as e os comunistas de nosso tempo devem se desfazer para todo o sempre.

Há exatos 64 anos, Nikita Kruschev denunciava o conjunto de atrocidades praticadas pelo ditador, sobretudo nos anos de maior violência de seus processos espetaculares e expurgos, dados na segunda metade dos anos 1930. Esta ofensiva stalinista não só levou à morte de centenas de milhares de pessoas – de dirigentes partidários e sindicais a crianças – como esfacelou as bases sociais democráticas assentadas pelos sovietes.

Seu discurso secreto promoveu um imenso terremoto no bojo dos Partidos Comunistas de todo o mundo.

Na primeira oitiva do discurso, há relatos de que delegados do XX Congresso do PCUS tiveram síncopes traumática, reclamando urgente atendimento médico.

Milhares, senão milhões, de militantes aguerridas e aguerridos de todo o mundo, centralizadas e centralizados desde o Kremlin por longos anos e décadas, após tomarem conhecimento dos fatos narrados por Kruschev sentiram na pele a mais dura prova da traição.

Traição a todo empenho militante dispensado. A todos os esforços construídos. A toda energia gasta, em prol de um projeto que em verdade se colocava como o completo oposto das aspirações radicais comunistas.

Muitas e muitos quebraram, para nunca mais militar. Outras e outros se enveredaram à direita, tamanho o choque com a notícia. Algumas pessoas buscaram a construção de alternativas organizativas que não as centralizadas pelos velhos e burocratizados PCs. Outras poucas, em postura inadmissível e anti-comunista, seguiram sendo condescendentes com tais práticas.

A espantosa e diminuta condescendência de outrora traz ainda mais assombrosos ecos na atualidade.

Em tempos que a barbárie se instala profundamente também em pretensas organizações de esquerda, em que gritos de “Stálin matou foi pouco” são ouvidos em espaços militantes das mais diversas naturezas, e que uma horda de golens virtuais de baixo calibre e alta disposição espetacular animam a reabilitação stalinista e a revisão legitimadora de suas práticas, a resposta de que tais ideias expressam a TRAIÇÃO dos anseios de uma tradição teórica e prática inaugurada por Marx e Engels, e animada por milhões de lutadoras e lutadores que tombaram na construção de um mundo novo, é constatação de maior relevância.

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